MUDANÇA NA CARGA DE DOENÇA AO LONGO DO TEMPO
Em 2007, cerca de 72% das mortes no Brasil
foram atribuídas às Doenças Crônicas Não Transmissíveis, DCNT, (doenças
cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, diabetes, câncer e outras,
inclusive doenças renais), 10% às doenças infecciosas (DI) e parasitárias e 5%
aos distúrbios de saúde materno-infantis. Essa distribuição contrasta com a de
1930, quando as doenças infecciosas respondiam por 46% das mortes nas capitais brasileiras.
Essa mudanca radical ocorreu em um contexto de desenvolvimento econômico e
social marcado por avanços sociais importantes e pela resolução dos principais
problemas de saúde pública vigentes naquela época. Nesse sentido, à medida que
os países se desenvolviam, as doenças infecciosas e parasitárias eram
erradicadas.
Paralelamente a essa mudança na carga de doença, houve uma rápida transição demográfica no Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, que produziu uma pirâmide etária com maior peso relativo para adultos e idosos. Crescimento da renda, industrialização e mecanização da produção, urbanização, maior acesso a alimentos em geral, incluindo os processados, e globalização de hábitos não saudáveis produziram rápida transição nutricional, expondo a população cada vez mais ao risco de doenças crônicas. Nesse sentido, a globalização de um novo estilo de vida , sedentário e com a ingestão de grande massa energética, atingiu todos os países, diferentes estágios de desenvolvimento. Entretanto, esse estilo de vida teve diferentes aceitações de acordo com a cultura da região, provocando diferentes índices de mortalidade por DCNT.
BIOQUIMACAMENTE


PAÍS RICO X PAÍS POBRE
As doenças crônicas são a
principal causa de incapacidade, a maior razão para a demanda a serviços de
saúde e respondem por parte considerável dos gastos efetuados no setor. Segundo
Lorig et al.
(2001) a prevalência de problemas crônicos de saúde vem aumentando, entre os
adultos, em todos os grupos etários. Elliot et
al. (2000) referem que 47% da população do Reino
Unido relata dor crônica em diferentes localizações. Estudando idosos de uma
comunidade em Porto Rico, Cordero et al.
(2000) registram 20,0% de prevalência de hipertensão arterial, 17,8% de
artrites e reumatismos, 16,5% de doenças do coração e 10,9% de diabetes.
Percebe-se que tanto países desenvolvidos quanto os subdesenvolvidos, que teoricamente
sofrem mais de doenças infecciosas, apresentam parcela significativa da população
sofrendo de DCNT.
A utilização de serviços de
saúde pelos portadores de problemas crônicos de saúde é consideravelmente maior
do que a observada entre a população em geral. Analisando os gastos em saúde
efetuados pelas organizações administradoras de saúde (HMO) norte-americanas, Chris
Rauber (1999) aponta uma estrutura de gastos que destina 84% dos recursos para tratamento
e recuperação e apenas 16% para prevenção dos agravos. Os portadores de doenças
crônicas, embora correspondam a cerca de 20% dos clientes, consomem cerca de
80% dos recursos.
Diante dessa realidade, o que
distingue países desenvolvidos de subdesenvolvidos a respeito de doenças crônicas,
não é a incidência na população, mas, sim, o preparo para lidar com elas, ou
seja, o recurso destinado. Enquanto os países desenvolvidos estão preparados
para lidar com doenças crônicas, os países em desenvolvimento estão erradicando
as doenças infecciosas e estão começando a destinar recursos para as DCNT,
causando um agravamento na situação.
DOENÇA
CRONICA E STATUS SOCIAL

Paradoxalmente ao pressuposto de que DI acometem mais aos pobres, e DCNT, aos ricos, pesquisas mostram que grupos étnicos e raciais menos privilegiados tem enorme participação na carga resultante de DCNT, desproporcional ao que representam na população brasileira. Um exemplo desse problema é a população indígena moderna.
As populações indígenas brasileiras estão passando por mudanças intensas em sua relação com a terra, o trabalho e a urbanização, o que está afetando sua saúde de maneira sem precedentes. Como em outros países, em relação à alimentação, os povos indígenas vêm sofrendo uma rápida mudança, caracterizada por um ganho de peso generalizado, maior que a média nacional. Por exemplo, os Xavante localizados na região das Reservas Indígenas Sangradouro-Volta Redonda e Pimentel Barbosa tiveram uma prevalência de obesidade em 1998-99 de cerca de 25% nos homens e 41% nas mulheres. Acredita-se que a dieta cada vez mais ocidental e a redução da prática de atividades físicas por conta de mudanças macrossociais sejam as causas diretas desses níveis de obesidade. Consequentemente, obesidade, hipertensão e diabetes estão se tornando questões de saúde pública cada vez mais graves nessa população.
Pode-se concluir que a incidência de
doenças crônicas não está relacionada ao maior poder aquisitivo da população (status
social), ou ao maior desenvolvimento de um país. Ao contrario do que se pensa,
as DCNT tem atingido todas as classes sociais e todos os países com diferentes
níveis de mortalidade. Esses níveis estão relacionados, na verdade, a cultura da
região quanto aos hábitos alimentares e às praticas físicas, estilo de vida
repassado pela globalização. Como também a falta de preparo de países em desenvolvimento para lidar com as doenças crônicas, agravando a situação da população mais carente, que sofre mais com essa situação.
Se ser chique é ser diferenciada e um modelo a se seguir, então, talvez
o chique não seja o "status" que uma doença tenha, ou a quem ela
acomete, talvez o chique seja manter os hábitos de vida saudável e feliz.
referências
http://www.scielosp.org/pdf/csp/v19s1/a04v19s1.pdf (acessado em 28/09/2014)
http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/images/stories/pdf/brazilpor41.pdf (acessado em 28/09/2014)
http://www.scielo.br/pdf/csc/v7n4/14603.pdf (acessado em 01/10/2014)
http://www.scielo.br/pdf/csc/v7n4/14603.pdf (acessado em 01/10/2014)
O que é mais interessante é que, ao contrário do que se pensa, as doenças crônicas estão presentes em todos os países do globo, não só nos mais pobres. Um grande problema, como você comentou, é a adoção de poucas medidas preventivas pelos países em desenvolvimento. Essa postagem mostrou bem o quanto ter uma alimentação saudável e praticar exercícios são importantes para diminuir os riscos de ter DCNT. Aguardo próximas postagens para aprender mais.
ResponderExcluirAchei bastante coerente a sua conclusão de que as doenças crônicas mais tem a ver com os hábitos alimentares e prática de exercícios do que com o status social da população. Porém, a relação entre as DCNT e a palavra "chique" pode fazer sentido se levarmos em conta que a globalização, como foi dito, trouxe hábitos novos para a população, como a alimentação em fast foods (com alimentos hipercalóricos e de baixa densidade nutricional) e o sedentarismo associado às novas tecnologias. Esses mesmos hábitos muitas vezes são considerados "chiques" pela população que antes não tinha contato com eles, daí se retira a relação entre DCNT e o "chique". Mas a boa notícia que podemos perceber é que cada vez mais a mídia vem valorizando os hábitos de vida saudáveis, o que pode significar uma mudança do que é considerado chique pelas pessoas (como é sugerido no último parágrafo), e consequentemente uma redução das doenças crônicas na sociedade. Espero ansiosa novas postagens sobre o assunto.
ResponderExcluirA transição da maior incidência de doenças infecciosas para as doenças crônicas representam a expansão contínua do processo de globalização mundialmente, ou seja, esse processo não é exclusivo dos países mais desenvolvidos e contraria a tese de que as DCNT acometem só os ricos, e consequentemente, refuta a ideia de que doenças crônicas ''são chiques''. O avanço da industrialização, principalmente a do setor alimentício, nas últimas décadas vieram acompanhadas simultaneamente da melhoria da qualidade vida populacional e dos hábitos de vida mais sedentários, o que é abordado no texto e é o principal fator para a queda da incidência das DI. Outro ponto bem interessante do post, é o modo distinto como os países estão preparados para enfrentar essas doenças (que frequentemente estão relacionadas com a ''cultura alimentar'' de cada região), visto que o investimento em medidas preventivas (como investimento em esporte e a maior conscientização sobre hábitos saudáveis) é mais intensificado nos países desenvolvidos. Assim o post é bem esclarecedor no que se refere à desmistificação de que ter uma DCNT é ''ser chique''. Aguardo novas postagens para aprender ainda mais sobre esse tema tão relevante!
ResponderExcluirO desenvolvimento econômico, a urbanização e as melhorias na condição de vida da população brasileira fizeram diminuir a ocorrência das doenças ditas de pobre , coma a diarreia e a malaria, por exemplo. Hoje, no Brasil, embora esse tipo de doença ainda possua substancial representatividade no rol de patologias que assolam a população elas deixaram de ser prevalentes na determinação das causas de morte. Como foi dito, nos últimos anos, atribui-se as DCNT mais de 70% das mortes no País. Fato que está relacionado com os novos hábitos alimentares das pessoas, que aumentaram o consumo de ácidos graxos saturados, açúcares e refrigerantes, e diminuíram o consumo de carboidratos complexos, frutas, verduras e legumes. Concordo que, embora se tenha a tendência de relacionar as DCNT à parcela rica da população, essas doenças não possam ser consideradas "chiques", elas apenas representam a diversidade patológica de uma época.
ResponderExcluirÓtimo post! É muito interessante perceber como o desenvolvimento tecnológico da sociedade e sua consequente mudança de estilo de vida trouxe enormes benefícios para a saúde da população, reduzindo drasticamente os casos de doenças infecciosas, mas por outro lado o estilo sedentário e obeso elevou os casos de doenças cronicas. Os países subdesenvolvidos estão sofrendo mais ainda por que estão conseguindo superar as doenças infecciosas agora, sendo que ainda não apresentam recursos ótimos para o tratamento das DCNT, enquanto os países desenvolvidos já estão nessa segunda fase.
ResponderExcluirAs doenças crônicas não transmissíveis, DCNT, como mostrado no post são doenças relacionadas principalmente ao estilo de vida da sociedade moderna em que se tem mais disponibilidade e acesso a uma variedades de alimentos, muitos extremamente calóricos, facilidades no cotidiano devido à tecnologia e que têm provocado uma gama de doenças como hipertensão, diabetes e outras relacionadas ao sistema cardiovascular.
ResponderExcluirAcho que as DCNT afetam todas as classes sociais em geral, inclusive os indígenas, mostrado no post, que com o passar do tempo absorveram muitos hábitos da cultura do "homem branco" e passaram a adquirir doenças que antes não possuíam.
Foi observado também o ônus ao Estado provocado pelas DCNT. A conclusão do post foi bem esclarecedora. Ótima postagem.
O desenvolvimento de novas tecnologias de tratamento de doenças nas últimas décadas possibilitou a crescente redução das doenças infecto- contagiosas na população mundial. Isso levou ao aumento da expectativa de vida das pessoas e ao consequente aumento da incidência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). As tecnologias de tratamento de doenças, como explicou o post, possibilitaram inclusive mudanças na pirâmide populacional, ocasionando um processo de envelhecimento da população. Isso acrescido das mudanças nos hábitos de alimentação, do sedentarismo e da exposição crescente da população a fatores de risco à saúde (poluentes, produtos químicos, conservantes, etc.) levou ao aumento das doenças crônicas, como o câncer e doenças cardiovasculares. Trata-se de uma assunto relevante que reflete uma grande parte do público que iremos encontrar nos serviços de saúde.
ResponderExcluir