sábado, 18 de outubro de 2014

 DOENÇAS CRÔNICAS E O SUS
 
 

 

Como dito nas postagens anteriores, as mudanças nos padrões de ocorrência das doen­ças têm imposto novos desafios, não só para os gestores e tomadores de decisão do setor da Saúde como também para outros setores governa­mentais, cujas ações repercutem na ocorrência dessas doenças. O desafio do financiamento das ações é um deles. Doenças crônicas custam caro para o Sistema Único de Saúde (SUS). Se não prevenidas e geren­ciadas adequadamente, demandam uma assistência médica de custos sempre crescentes, em razão da permanente e necessária incorporação tecnológica. Para toda a sociedade, o número de mortes prematu­ras e de incapacidades faz com que o enfretamento das “novas epidemias”, causadas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), demandem significativos investimentos em pesquisa, vigilância, prevenção, promoção da saúde e defesa de uma vida saudável.
O tema está em destaque mundial, não só pela liderança das doenças cardiovasculares na mortalidade na grande maioria dos países, como pela já considerada pandemia da obesidade, inclusive em crianças e adolescentes. A endemia do diabetes é esperada. No Brasil a situação é grave. O envelhecimento populacional é rápido, com expectativa de aumento real das frequências da obesidade e o diabetes como problema populacional sem concomitantes estratégias de proteção e promoção da saúde no contexto das DCNT. Predomina maciçamente a prática clínica, mas sem assegurar o tratamento ininterrupto para as DCNT na rede básica de saúde.
 
Diabetes      A célula deixa de reconhecer a insulina, hormônio que permite a glicogênese
 tipo II       formação de glicogênio, reserva de energia em forma de carboidrato(glicogênio)
 
Nas próximas duas a três décadas, os atuais adultos jovens dependentes da assistência do SUS serão a grande massa de idosos que deixaram de receber, no momento adequado, a promoção e proteção para a saúde e/ou controle de DCNT, frequentemente instalada em idade precoce. Portanto, sem planejamento adequado e metas cumpridas para atender a esses futuros idosos, o envelhecimento ocorrerá com altas prevalências de simultâneas DCNT, parte delas com incapacidade. A projeção de pessoas ≥ 60 anos para o Brasil em 2050 é de 18% do total, a mesma prevista para o grupo 0-14 anos (IBGE, 2004) e atualmente as DCNT já representam 66% da carga de doença no País (Schramm et al., 2004). A longevidade cursará sem qualidade de vida e a seguridade social estará mais sobrecarregada, com difícil retorno.
 
POSSÍVEIS SOLUÇÕES

As DCNT são de difícil monitoramento na população pelo longo curso assintomático, por não serem de notificação obrigatória e por serem as coortes populacionais caras e desaconselháveis para países pobres. Porém, as redes de prevenção e controle das DCNT são organizadas por regiões, com objetivos e metodologias semelhantes nas regiões, mas com diferenças entre regiões, mostrando ser possível o monitoramento das DCNT em alguns dos países componentes das redes. A maioria deles conta com a participação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e suas representações nos países dos diversos continentes. É proposto que as experiências de sucesso possam ser repassadas a outros países das mesmas regiões, mesmo que não tenham sido planejadas para VE(vigilância epidemiológica), conquanto o monitoramento de variáveis selecionadas esteja subentendido nas propostas. São exemplos das redes os programas: CINDI (Europa), CARMEN (América), e outros.
A Coordenação-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis(DANT), da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, tem a responsabi­lidade de coordenar e formular, em nível nacional, as atividades de vigilância epidemiológica das DANT e promoção da saúde, fomentando sua implementação nos níveis estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde, SUS. A DANT estrutura-se em equipe técnica estável, acesso a bancos de dados, monitoramento com indicadores definidos, vigilância dos serviços e do impacto nos custos e agenda de trabalho estratégica.
 
A REALIDADE
 
No contexto epidemiológico e social do Terceiro Mundo, as previsões futuras para o Brasil, em relação às DCNT, até o momento, são sombrias. Persistem as políticas de saúde do País em optar maciçamente pela medicina curativa, pelo atendimento e tratamento das DCNT em serviços de urgência, emergência ou sob hospitalizações. O custo elevado dessas opções, obviamente reconhecido, não favorece as mudanças desejáveis. Esse é um aspecto já bastante conhecido daqueles que lidam com DCNT, dependente da burocracia, de difícil resolução, impedindo a prática da promoção e proteção da saúde, mesmo que se tenha incorporado essa ideia nos programas oficiais para tais doenças, em períodos governamentais sucessivos desde a década de 1980.
Os programas da hipertensão arterial e diabetes, criados na década de 1980 (Lessa, 1998), não apresentaram o desempenho esperado em razão de mudanças e de substituições ou desativações temporárias por cada nova administração central na área da saúde, sem que os mesmos tivessem sido avaliados. Em outros momentos, os programas não receberam – e ainda não recebem – o apoio essencial à sua manutenção e sucesso. Foram programas com propostas de educação e controle direcionados à hipertensão e ao diabetes, mas que não conseguiram se enquadrar na prevenção primária, de baixo custo, desviando-se exclusivamente para a prática clínica, onerosa, de restrito acesso e baixa cobertura.
Entretanto, a VE para DCNT no Brasil é uma decisão que não pode retroceder, mas será necessário um grande esforço para participação de todos os estados. O método progressivo da OMS é uma proposta válida, e poderá ser implementada selecionando-se as etapas com disponibilidade de dados, facilitando a adaptação dos recursos humanos a esse tipo de vigilância, especialmente nos Estados com maiores dificuldades com a organização da informação e análise. O ideal seria incluir de imediato a VE dos fatores de risco em todo o País. Com alguns ajustes nas fontes de dados, com a prática da prevenção precoce e garantindo-se a coleta de dados primários em períodos pré-definidos, pode-se afirmar que a VE para DCNT é viável
 
 É perceptível a necessidade da implantação de programas de vigilância, mas também , é notável que deve-se mudar a visão da medicina curativa. As DCNT são de longa duração, devem ser prevenidas e acompanhadas habitualmente. Atualmente, o SUS ainda não contempla todas essas necessidades e ainda tem o agravante de problemas como superlotação, mal atendimento, e falta de suprimentos. O acompanhamento das doenças crônicas é feito com maior qualidade na rede particular, corroborando com a ideia de que as DCNT são doenças de rico e DI de pobre.

 

 
Referências:
http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a14v9n4.pdf


 

8 comentários:

  1. Do total de óbitos ocorridos no mundo em 2008, 63% foram relacionados às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Quatro grupos de doenças - cardiovasculares, câncer, doença respiratória crônica e diabetes - responderam pela grande maioria desses óbitos. Sua preponderância nas causas de mortalidade globalmente e o compartilhamento de seus fatores de risco com os de outras doenças crônicas nortearam a formulação de estratégias preventivas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2005 para o enfrentamento das DCNT. A OMS mostrou também que cerca de 80% dos óbitos por DCNT ocorreram em países de baixa ou média renda,com 29% dos óbitos em adultos com menos de 60 anos, enquanto naqueles de alta renda esse percentual era de apenas 13%. O impacto socioeconômico das DCNT está ameaçando o progresso das Metas de Desenvolvimento do Milênio, incluindo a redução da pobreza, a equidade, a estabilidade econômica e a segurança humana, podendo atuar como um freio no próprio desenvolvimento econômico das nações. Campanhas que visem aconselhar a população a ter uma alimentação saudável são uma forma simples de prevenir as DCNT. Vários estudos demonstram a relação entre alimentação e DCNT. Um exemplo clássico, é uma aliementação rica em gordura saturada e o aparecimento de problemas cardiovasculares.

    Fonte: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000700017&lng=pt&nrm=iso

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  2. Muito interessante esse tema. As doenças crônicas entraram na pauta de agravos que mais matam no Brasil, e com uma tenebrosa expectativa futura, considerando as mudanças da pirâmide etária que apontam para um país de idosos em algumas décadas. Entretanto, a constatação da realidade é mais tenebrosa ainda, pois doenças que se esperava em idosos, hoje estão sendo cada vez mais comuns em crianças, adolescentes e adultos jovens. O documentário (muito bom, quem se interessar pelo tema, vale a pena vê-lo) “Muito Além do Peso”, casos em que avós e netos, dentro da mesma casa, possuem as mesmas doenças crônicas, e, por vezes, dividem os mesmos medicamentos. São crianças que sofrem de hipertensão, diabetes, obesidade, etc. A má alimentação e o sedentarismo estão na dianteira das causas dessas mudanças epidemiológicas típicas de países ricos. O documentário mostra que a maioria das crianças dos grandes centros não souberam identificar frutas comuns, opondo-se ao conhecimento vasto quando os alimentos industrializados foram apresentados a eles. Então, o combate às doenças crônicas passa pela reeducação alimentar e pelas práticas de exercícios físicos, além de cuidar de quem já está acometido.

    Fonte: http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2013/02/documentario-muito-alem-do-peso-sera-apresentado-em-brasilia

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  3. As transições demográfica, nutricional e epidemiológica ocorridas no século passado determinaram um perfil de risco em que doenças crônicas como o diabetes e a hipertensão assumiram ônus crescente e preocupante. Ambas são condições prevalentes e importantes problemas de saúde pública em todos os países, independentemente de seu grau de desenvolvimento. Com o propósito de reduzir a morbi-mortalidade associada à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus, o Ministério da Saúde implementou o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus no País. O objetivo geral foi o estabelecimento de diretrizes e metas para a reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes no Sistema Único de Saúde, através da atualização dos profissionais da rede básica, da garantia do diagnóstico e da vinculação do paciente às unidades de saúde para tratamento e acompanhamento, promovendo assim a reestruturação e a ampliação do atendimento resolutivo e de qualidade para os portadores dessas patologias na rede pública de serviços de saúde.
    Referência: http://www.cescage.com.br/ead/adm/shared/arquivos/texto-obri.2_a-constru-%C2%BA-%C3%BAo-da-vigil--ncia-e-preven-%C2%BA-%C3%BAo-das-doen-%C2%BAas-cronicas.pdf

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  4. No Brasil não é novidade que, principalmente nas regiões mais pobres do país, como o nordeste, o setor de saúde publica é extremamente carente, principalmente devido à falta de investimentos por parte do governo. É exatamente por isso que existem tantos problemas para se tratar as DCNT, que tem grande demanda por tecnologia e medicamentos, coisas nada baratas. Além disso, outro grave problema existente é a persistência de investir em medicina curativa em vez de preventiva. Prevenir que doenças aconteçam é muito mais barato que ter que pagar pelo tratamento das mesmas. Dessa forma, para tentar reduzir os gastos que o Brasil fará com tratamento de DCNP no futuro é de grande importância estimular a prevenção dessas doenças.

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  5. O progressivo aumento das DCNT no Brasil, causado principalmente pelos maus hábitos de vida trazidos pela contemporaneidade, tem se constituído em um imenso desafio para o país. Como foi abordado no texto, a medicina curativa ainda é o caminho mais usado, e em breve os custos causados por essa escolha errada irão onerar demais os cofres públicos, o que poderá causar um colapso na saúde pública do país. Logo, o melhor meio ainda é a prevenção dessas doenças e a promoção de hábitos saudáveis, principalmente entre a população jovem, que tem sido bastante afetada pelas DCNT. Leis mais severas quanto à composição dos alimentos também podem ser bastante úteis no combate à essas doenças, já que, por exemplo, o excesso de sódio e de açúcares nos alimentos têm relação direta com a diabetes e a hipertensão arterial.

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  6. Muito interessante a postagem. De fato, é preocupante o crescimento do número de casos de doenças crônicas não transmissíveis, principalmente pelo fato do aumento da expectativa de vida da população e, portanto, do aumento de pessoas que chegarão à terceira idade já com co-morbidades associadas. Outro fato a destacar também, e que pode ser tratado em outra postagem, é o difícil controle das DCNT, pois envolvem não somente o controle medicamentoso, mas também o não medicamentoso (alimentação saudável, prática de atividade física, abandono do tabagismo e etilismo, redução de peso e controle do estresse), sendo este o de mais difícil controle, pois depende muito do empenho individual de cada usuário do serviço de saúde para o alcance dos resultados esperados. Além disso, muitos consideram o tratamento não medicamentoso mais difícil de ser seguido pois o consideram, várias vezes, como uma perda das poucas alegrias que ainda restaram a eles, como o consumo de um determinado alimento ou o uso do cigarro/álcool.

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  7. É interessante ressaltar que, apesar de termos promessas para o futuro populacional do país de jovens adultos mais propensos a desenvolverem DCNT´s a uma parte que já esta sendo vitimada pela como sempre envolvida pouca de influencia governamental a uma reeducação alimentar direcionada ao público infantil. Crianças obesas com taxas altas de colesterol são comumente encontradas em todo o território brasileiro principalmente nos grandes centros urbanos, o que já identifica um problema de saúde pública. O SUS (Sistema Único de Saúde) atualmente é um programa assistencialista precário, que como já frisado anteriormente no post, pratica a medicina curativa, o que realmente é fonte de gastos exorbitantes ainda mais levando-se em conta os desvios de verbas propiciados pela corrupção.
    No entanto, um dos maiores problemas do nosso sistema de saúde é a falta da prevenção, sendo precário o ensino às pessoas principalmente as crianças, a viverem de forma saudável. A medicina preventiva aliada a vigilância epidemiológica já vigente em outros países seria realmente menos custosa e apresentaria mais sucesso ao se tratar de seguridade social.

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