sábado, 8 de novembro de 2014


DCNT NA POPULAÇÃO INDÍGENA



A população indígena passou por uma transição epidemiológica ao longo do tempo. A saúde dessa comunidade está relacionada a processos históricos de mudanças sociais, econômicas e ambientais atreladas às mudanças demográficas e econômicas da sociedade nacional nas diversas regiões do país.
A principal causa de morte da comunidade indígena eram as doenças parasitarias e infecciosas, surgidas pelo contato dessa população com o “povo branco”. Desde a época da colonização do Brasil esse fenômeno foi percebido. Como uma estratégia de ocupação das áreas indígenas, foi utilizada a técnica de infectar com doenças infecciosas, doenças pelas quais os índios não tinham defesa para combater. Ainda na década de 80, o contato dos garimpeiros com os índios determinou a morte de grande parcela da comunidade. Grupos vivendo em certas áreas da Amazônia e no Centro-Oeste, em especial aquelas sob a influência de fluxos migratórios, atividades de mineração ou de implantação de projetos de desenvolvimento, são particularmente vulneráveis a doenças infecciosas. Nesses contextos, elevadas taxas de morbidade e mortalidade devido à malária têm sido observadas.
Além disso, o contato com o resto da sociedade nacional somada a perda de terra indígena, verificadas desde o “descobrimento” do Brasil, têm determinado um aumento da carga das doenças crônicas na mortalidade da população indígena. A perda de território acarretou em uma terra insuficiente para a subsistência do índio, que diminuiu atividades físicas como a pesca, a caça, a colheita. Diante desse quadro, fez-se necessário um maior contato com o povo branco, passando a trabalhar para eles, a comprar alimentos industrializados e tecnologias como barco a motor. Esses trabalhos muitas vezes estão relacionados com a retirada da cana ou da floresta, e são mal remunerados, muito semelhante à escravidão branca.
Nesse novo cenário, os indígenas deixaram de fazer suas atividades e adquiriram uma vida mais sedentária e com alimentos mais industrializados, com a ingestão de mais gordura trans, menos fibras e mais massa. Por outro lado, o contato com a sociedade nacional proporcionou um maior contato relativo à medicamentos e a rede de saúde. Diante disso, a população indígena passou a ter maior longevidade, que somado com os novos hábitos não saudáveis, contribuiu para um quadro de obesidade, hipertensão e diabetes na sociedade indígena.

O NOVO CENÁRIO
Hoje, a malária está sob controle e, embora as doenças infecciosas e parasitárias ainda sejam relevantes em termos de mortalidade, são os males crônicos não transmissíveis, como hipertensão, intolerância à glicose e dislipidemia (aumento anormal da taxa de lipídios no sangue), que estão em crescimento. Conhecendo esse panorama, pesquisadores da EPM/Unifesp examinaram e entrevistaram 179 índios Khisêdjê, moradores da área central do parque do Xingu, no Mato Grosso, entre 2010 e 2011.
A análise dos resultados mostrou uma prevalência de hipertensão arterial de 10,3% em ambos os sexos, sendo que 18,7% das mulheres e 53% dos homens apresentaram níveis de pressão arterial considerados preocupantes. Os Khisêdjê ainda não estão tão hipertensos como os demais brasileiros, mas o cenário é delicado, uma vez que tal condição era inexistente ou rara nas aldeias brasileiras até décadas atrás.
Já a intolerância à glicose foi identificada em 30,5% das mulheres (6,9% do total com diabetes mellitus) e em 17% dos homens (2% do total com diabetes mellitus). E a dislipidemia (aumento anormal da taxa de lipídios no sangue) apareceu em 84,4% dos participantes dos dois sexos. Ainda assim, o quadro preocupa os pesquisadores, uma vez que o controle das doenças requer condições nem sempre disponíveis nas aldeias, como refrigeração (no caso da insulina), controle da dose e do horário dos medicamentos, controle regular da glicemia e da pressão arterial.
Outro resultado obtido por meio dessa análise foi a prevalência de excesso de peso (de sobrepeso ou de obesidade): 36% entre as mulheres e 56,8% entre os homens. No entanto, particularmente entre os homens, tal prevalência se deve a uma maior quantidade de massa muscular e não de tecido gorduroso. Esse dado sugere que, para a população em questão, os critérios de identificação do excesso de peso não são adequados, uma vez que os indivíduos são musculosos, não obesos. Portanto eles não sofrem de sedentarismo, mas houve um menor nível de atividade física.
NOVOS DESAFIOS


Diante desse novo quadro, é perceptível a necessidade da atenção médica para essa população explorada historicamente. DCNT devem ser acompanhadas por médicos como dito em outras postagens. Entretanto, a distância dos territórios indígenas dos centros dificulta esse atendimento e o acompanhamento das doenças crônicas. Habitualmente são feitas expedições que atuam nas aldeias visando tratar e cuidar dos índios, mas não atende de forma satisfatória, pois são feitas em poucos períodos do ano. A população nacional é responsável pela saúde dos índios e deve atendê-los.
 As doenças crônicas são comuns a todas as classes sociais e a todas as etnias, não pode ser considerada chique, pois não é exclusiva da classe alta. Além disso, seu tratamento deve ser um direito de todos e deve ser garantido pela saúde publica.

9 comentários:

  1. No Brasil e em outras partes do mundo, as doenças infecciosas ocupam um locus diferenciado na história dos povos indígenas. Ε desnecessário reiterar a magnitude da desestruturação demográfica e sócio-cultural a elas associada, o que fez com que se tornassem elementos cruciais no processo de subjugação frente ao expansionismo ocidental. Ainda que as doenças infecciosas continuem a ocupar um papel proeminente no perfil epidemiológico indígena no país, há evidências de que a expressão das doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão e diabetes mellitus, está se ampliando. A sobreposição de perfis epidemiológicos também se verifica na população brasileira em geral mas é possível que seja mais intensa entre os povos indígenas. As conseqüências dessa sobreposição (para os indivíduos, as comunidades e os serviços de saúde) são amplas, ainda que seja difícil caracterizá-las no contexto atual da saúde indígena no Brasil.
    Referência: http://static.scielo.org/scielobooks/bsmtd/pdf/coimbra-9788575412619.pdf

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  2. Uma dimensão particularmente pouco conhecida da epidemiologia dos povos indígenas no Brasil, e com amplos impactos no presente e futuro, diz respeito à emergência das doenças crônicas não-transmissíveis, como obesidade, hipertensão arterial, diabetes melito, entre outras. O surgimento desse grupo de doenças como elementos importantes no perfil de morbidade e mortalidade indígena está estreitamente associado a modificações na subsistência, dieta e atividade física, dentre outros fatores, decorrentes de mudanças sócio-culturais e econômicas resultantes da interação com a sociedade nacional. No bojo dessas mudanças, verifica-se que, concomitante à emergência das doenças crônicas não transmissíveis, há um crescente número de relatos sobre a ocorrência de transtornos psiquiátricos que, não raro, impactam sobre as comunidades de forma disseminada, incluindo
    jovens e adultos de ambos os sexos. Este é o caso, por exemplo, da depressão, suicídio, alcoolismo e drogadicção, que vêm sendo reportados em diferentes etnias.

    Fonte: http://www.cesir.unir.br/pdfs/doc3.pdf

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  3. Quando duas culturas, como a do homem branco e a do índio por exemplo, entram em contato é normal que aquela mais forte se sobressaia sobre a mais fraca. Além disso também ocorre um processo denominado aculturação, onde a cultura mais fraca incorpora certos elementos da cultura dominante. Assim, desde que o homem branco começou a ter contato com o índio, esse vem sofrendo esse processo de aculturação, incorporando certos elementos da cultura do branco. De fato em muitas aldeias se encontram índios usando roupas, barcos a motor e (acreditem ou não) até smartphones. Porém, eles também estão assimilando certos aspectos negativos da cultura do homem branco, como é o caso dos hábitos alimentares. Estão deixando de comer as coisas que caçam e plantam para se alimentar de comidas industrializadas. Estas que são ricas em carboidratos e lipídios, o que tem aumentando a incidência de doenças crônicas não transmissíveis neles, tais como diabetes, hipertensão, entre outras. Assim faz-se necessária a atuação do governo com o intuito de aumentar a atenção médica para essa população, uma vez que as DCNT não são de fácil tratamento.

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  4. A sobreposição da cultura branca à cultura do índio trouxe diversos hábitos prejudiciais a essa população: comidas industrializadas (com altos teores de sódio, açúcares e gordura), atividades mecanizadas (o que diminui a atividade física realizada por eles), etc. Isso gerou um contexto ideal para o surgimento de doenças crônicas entre os indígenas, o que se constitui em um desafio para as instituições responsáveis pela saúde do índio, que agem pautadas na Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena (tem como propósito, garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios do SUS, analisando a variedade social, cultural, geográfica, histórica e política, beneficiando os fatores que tornam essa população mais vulneráve l às doenças de maior complexidade entre os “homens-brancos”).

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    1. Referência: http://www.unama.br/graduacao/fisioterapia/pdf/2006/prevalencia-de-doencas-articulares-cronicas-associadas.pdf

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  5. Realmente, a população indígena tem se sofrido o processo de aculturação pelo contato,cada vez maior, com a população em geral. Hoje em dia são muito raras as tribos que realmente se isolam do mundo externo, e isso é muito compreensível, já que a sociedade desenvolveu facilidades para a vida que atraem os olhos de qualquer pessoa, como por exemplo os alimentos industrializados, que parecem mais interessantes do que gastar um esforço físico enorme com a caça ou agricultura, e as roupas, que conferem proteção, essencial para a vida na selva. Essa inserção do indio na sociedade contemporâneo também se dá pelo aumento do poder econômico de parte dessa população, principalmente proveniente de indenizações pela desapropriação ou danos causados as suas terras. Só para se ter uma ideia, em 2013, o Ministério Público Federal pediu uma indenização de 20 milhões de reais para os índios habitam as terras indígenas Tenharim Marmelos e Jiahui, no Sul do estado do Amazonas. Com o acumulo de recursos financeiros, é inevitável a aproximação cada vez maior com a sociedade externa, seu modo de vida, e, decorrentemente, aos seus problemas, como as doenças crônicas. Na verdade, para muitos índios, essa denominação significa apenas uma identidade histórica, por que culturalmente assemelham-se aos brasileiros comuns.
    Referência: http://6ccr.pgr.mpf.mp.br/destaques-do-site/mpf-pede-indenizacao-de-r-20-milhoes-para-indios-no-sul-do-am

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  6. Essa mudança, como demonstrado, é divida a falta de condições para a manutenção da cultura indígena, o que os obriga a buscar meios de sustento na sociedade extra-aldeia. Essa situação os aproxima da nossa cultura alimentar e sedentária, tornando-os suscetíveis às mesmas doenças crônicas, com o diferencial da desvantagem no acesso a serviços de saúde para tratar essas doenças. Por exemplo, um índio com diabetes insulinodependente que precisa guardar a insulina na geladeira, fica complicado. Os índios precisam mesmo é serem preservados dentro de suas culturas, e para isso, eles dependem da terra, do rio, do seu território. Manter as terras indígenas e garantir o território é fundamental. Fonte: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-10-20/aumenta-incidencia-de-doencas-cronicas-entre-indios-do-xingu-mostra-pesquisa

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  7. É preocupante como as doenças crônicas estão conseguindo atingir até mesmo os indígenas. O maior contato desse povos com a população não indígena propiciou o contato deles com novos costumes e consequentemente novos alimentos e hábitos não saudáveis de vida. Assim ouvimos falar nos noticiários sobre o consumo de bebidas alcóolicas, cigarros, entre outros hábitos prejudiciais à saúde. O enfrentamento desses agravos na população indígena é também muito mais complicado, e seu impacto nessas comunidades é considerável.

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